LEGADO DE PAIXÃO
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https://www.editoraviraletra.com.br/vira-letra-digital-pg-502a7Era desse jeito que Isabela era acordada todos os dias. A voz amorosa da tia a despertava, e ela se espreguiçava na cama. Depois jogava o lençol para o lado, e se levantava de um pulo só.
Tia Carmen e Tio Zé tinham criado e paparicado a sobrinha desde que ficara órfã aos sete anos de idade.
Não que Isabela fosse mimada. A educação primorosa dada pelos tios não permitia. Um pouco mal acostumada, talvez, a ter atenção absoluta e conseguir tudo que queria. Como a própria Tia Carmen sempre dizia:
- Ainda está pra nascer pessoa mais obstinada do que essa menina!
Com a morte do tio dois anos atrás, eram só as duas no apartamento no Flamengo, e com a pensão da tia e o salário mixo do estágio de Isabela, estava cada vez mais difícil pagar todas as contas no final do mês.
Na verdade, Isabela estava começando a pensar em abandonar a faculdade e arrumar um emprego de verdade.
Saiu do quarto ainda esfregando os olhos. Chegando à sala, deu dois beijos na tia:
- Bom dia, titia!
Apertou a senhora carinhosamente entre os braços. Foi correspondida com o mesmo carinho e alegria:
- Bom dia, lindinha!
Como sempre, o café da manhã já estava esperando por ela na mesa da sala.
Serviu-se de leite e Nescau. Começou a bebericar o líquido distraidamente enquanto folheava o jornal.
Fez menção de levantar quando o telefone tocou, mas Tia Carmen a impediu com um gesto de “deixa comigo, termina seu café”, e atendeu:
- Alô? É ela. Sim...
Não prestou atenção na conversa da tia. Tinha combinado passar o dia de folga com Cris. Fazia muito tempo que não ficava um dia inteirinho com a namorada, os horários das duas simplesmente não batiam.
Na verdade, o relacionamento estava meio no ponto morto. Morno, sem grandes entusiasmos, muito diferente do fogo do início. A experiência de Isabela dizia que precisava dar um jeito naquilo, que não podiam continuar assim.
Não que reacender a paixão entre elas fosse algo difícil. Nunca tinham tido problemas na cama. Ao contrário de em todos os outros aspectos. Cris e ela eram extremos opostos. Pólos magnéticos contrários, e exatamente por isso, tinham sofrido, assim que haviam se conhecido, uma atração irresistível, que tinha culminado no namoro de dois anos repleto de momentos absolutamente inesquecíveis.
Os lábios de Isabela se abriram num sorriso de antecipação. Pensando em mil formas deliciosas de usufruir do final de semana, e recuperar o tempo perdido.
Foi quando a tia desligou o telefone e se atirou na cadeira mais próxima, tão pálida que Isabela levantou, preocupada.
- Nossa, o que foi, titia?
Tia Carmen levou a mão ao coração. Sem ar, como se lhe falhasse a respiração. Com muito esforço, conseguiu gaguejar:
- A Guida... A Guida faleceu...
Antes de cair num choro baixo e sofrido.
Isabela imediatamente abraçou a tia, tão perplexa quanto ela. Tentando digerir a notícia.
A irmã de Tia Carmen, Guida, vivia isolada em num sítio no interior de Goiás. Solteirona convicta, uma quase reclusa, com cara de poucos amigos.
Isabela tinha passado uns tempos com ela no tal sítio quando os pais morreram, mas logo depois tinha ido morar com Tia Carmen e Tio Zé.
Na verdade não se lembrava direito, pois essa era uma época de sua vida muito confusa e triste, da qual quase não tinha lembranças. Nem queria.
Só depois que os soluços cessaram e Tia Carmen pareceu um pouco mais tranquila, se permitiu perguntar:
- Como assim, morreu? Como? Do que?
Tia Carmen respirou fundo. Lançou para Isabela um olhar desolado, muito mais do que triste, antes de finalmente esclarecer:
- Num acidente, parece. Estava montando e caiu. Morreu na queda, nem chegou a ir para o hospital. Guida sempre foi louca por cavalos, desde menina. O enterro foi ontem. Não adianta mais irmos. Quem ligou avisando foi um advogado que, não sei por que, quer que você vá ao escritório dele o mais rápido possível.
Isabela não disse nada. Nem precisava. Tia Carmen a conhecia bem o suficiente para entender o que se passava na cabeça da sobrinha. Tanto que frisou:
- Hoje, Belinha.
Sem conseguir disfarçar o quanto estava contrariada, Isabela desabafou:
- Logo hoje?
Mas Tia Carmen insistiu:
- Ele disse que é urgente.
Isabela fez uma careta, porém sabia que a tia não ia sossegar enquanto ela não concordasse em ir. Informou, resignada:
- Tá, então vou agora, quero me ver logo livre disso. Só preciso dar um telefonema e me vestir.
Tia Carmen se ofereceu daquele jeitinho dela que não admitia contestação:
- Eu vou com você.
Depois de concordar com um aceno de cabeça, e beber um último gole da xícara na frente dela, Isabela foi para o quarto.
Um pouco chateada, por que... Sabia que Cris não ia gostar nada de ficar esperando, mas fazer o que?
Pegou o telefone e apertou o botão de “redial” – tinha ligado para a namorada antes de dormir.
O tom de voz sonolento do outro lado deixou claro que Cris ainda estava acordando:
- Alô?
Foi só o que ela disse. Com o tom mais carinhoso possível, Isabela respondeu:
- Oi, amor... Bom dia!
Uma pequena pausa. Provavelmente para Cris tirar a máscara nos olhos com que sempre dormia:
- Bom dia, amor! Ainda nem levantei... Já tá vindo pra cá, né?
Isabela engoliu em seco:
- Na verdade preciso resolver um negócio com a minha tia antes, mas...
Cris nem a deixou completar. Com a voz já alterada, quase gritou:
- Porra, Isa! Você prometeu! Eu não acredito!
Bastava uma pequena contrariedade para Cris começar a dar o showzinho de sempre. Exatamente por isso, depois de dois anos, amansar a fera era algo que Isabela sabia fazer muito bem:
- Poxa, amor... É rapidinho. Juro que daqui a pouquinho eu tô aí...
Funcionou. A voz de Cris melhorou um pouco:
- Tá, mas não demora!
Não o suficiente. Isabela redobrou os esforços, nem um pouco a fim de ficar ouvindo milhares de reclamações depois:
- Tô louca pra chegar aí! Te amo! Muito, muito, muito!
E resolveu a questão. Cris se derreteu toda:
- Eu também, amor! Vem logo!
***
Saiu de casa quase arrastando a tia. Estava com pressa, queria resolver tudo o mais rápido possível.
Quando chegaram ao escritório do tal advogado, a recepcionista pediu que aguardassem um pouco na sala de espera.
Instalaram-se lado a lado no sofá. Tia Carmen achando graça na impaciência nítida da sobrinha.
Os olhos de Isabela procuraram várias vezes – tantas que perdeu a conta - o relógio na parede em frente durante os dez minutos que demoraram até que finalmente pudessem entrar.
O advogado, um senhor muito educado, pediu para que se sentassem antes de explicar:
- Muito boa tarde, eu sou o doutor Macedo, chamei as senhoras aqui porque estou em posse do testamento da senhora Margarida de Brito Oliveira. Ela deixou todos os bens, que incluem o sítio “Sol Nascente”, para a sobrinha, senhorita. Isabela Oliveira Morais.
Tia Carmen tapou a boca com a mão. Isabela arregalou os olhos, ainda sem acreditar:
- O quê?
O Doutor Macedo sorriu, e continuou:
- A senhorita é a única herdeira.
Tia Carmen deixou escapar, como se pensasse alto:
- Essa Guida! Sempre cheia de surpresas!
Perplexa, Isabela tentou confirmar:
- Mas então... Quando... O que eu... É tudo meu, de verdade? Assim, do nada?
Obrigando o Doutor Macedo a completar:
- Na verdade, a sua tia deixou uma cláusula no testamento com algumas condições.
Isabela e tia Carmen se entreolharam, surpresas e curiosas. Sem imaginar o que o Doutor Macedo iria dizer:
- Para que o sítio se torne realmente seu, a senhorita deverá administrar e morar nele, sem se ausentar, pelos próximos três meses.
Isabela chegou a se levantar. Sem nem perceber:
- Como assim?
A idéia de passar três meses embrenhada no meio do mato e ainda por cima deixando a namorada sozinha no Rio de Janeiro era absolutamente impensável.
Mas o Doutor Macedo informou:
- Caso a senhorita não o faça, automaticamente o sítio passará a pertencer à outra pessoa que consta na cláusula do testamento que sua tia deixou.
Tia Carmen também não gostou nem um pouco da idéia da irmã. A última coisa que queria era ver a sobrinha querida isolada tão longe, num lugar ermo. Quase gritou:
- Outra pessoa? Que outra pessoa? Essa Guida, realmente, nunca teve juízo!
Do alto de sua imparcialidade de advogado, o Doutor Macedo leu no papel que segurava:
- “A senhora Fernanda Quintanilha, proprietária da fazenda vizinha, e minha grande amiga.”
Tia Carmen não se conformou:
- Grande amiga? Mas a Guida era quase uma eremita! Afinal, o que é que estava se passando na cabeça da minha irmã? Isso não está certo, é um absurdo, isso é o que é!
Isabela voltou a se sentar. Muito pensativa. Os olhos fixos no nada, enquanto ouvia:
- Sinto muito, ela deixou bem claro. A senhorita Isabela tem exatamente setenta e duas horas para chegar no sítio. Caso contrário...
As palavras do advogado fizeram Isabela reagir:
- A tal senhora Fernanda fica com tudo. Tá, eu já entendi! Não temos opção, titia, eu tenho que ir!
Tia Carmen tentou protestar:
- Mas, Belinha...
Porém, Isabela estava irredutível. Sabia que não tinha opção. Precisava pensar no futuro, dela e da tia. Resolveu agarrar com todas as forças a oportunidade que lhe era oferecida:
- Eu vou.
Essa era a única certeza que tinha. No resto, pensaria depois.
O Doutor Macedo encerrou o assunto de forma muito simples:
- Vou avisar aos empregados do sítio sobre a sua chegada então.
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